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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Os Números


Poderia ter sido arsénico. Estranho como as inspirações podem vir das coisas mais absurdas

- Não olhe tanto para baixo - diz Tom.
Mas ele não sabe o que temo, tenho medo de tropeçar e se eu cair dessa vez, terei que recomeçar do Zero.
No número Zero eu escondi uma criatura que se alimenta das minhas derrotas, e a cada novo recomeço as coisas ficam mais difíceis.
Tom ri, diz que sou um tolo, que já estou forte, que hoje eu poderia ter o mundo. Não sou de mentir, as vezes prefiro omitir algo ao dizer palavras falsas, sendo assim, me faço o silêncio. As palavras de Tom me animam, mas não posso negar que nelas ainda faltam coisas que não foram ditas.

O quarto é amplo, mas as portas estão todas trancadas, não posso sair. Tom abre uma porta e pede que eu saia, e ele mesmo ao sair, prefere a janela.
- Estranho você Tom, usando o meu mundo para ter suas aventuras - Como sempre, ele apenas ri.
- Olhe como o céu está lindo hoje - diz Tom
- Tom, o céu é sempre lindo
- Mas hoje é diferente - insiste Tom - Precisamos celebrar

Naquela noite bebemos muito, poderia ter sido arsénico, mas aonde encontrar tal substância?
Tom não sabe o qual o número que ele corresponde. Sem saber que é o número Dois, ele sempre vai agir como o número Um. Eu sou o número Um, e por ser assim, estou mais próximo do Zero.

Tom se irrita por eu permanecer calado a maior parte do tempo, e questiona o meu silêncio.
- Hoje só quero admirar o céu, quero encontrar esse algo especial que o tornou único.
- Não era para ser assim - diz ele - Não entendo o que te falta, o que você precisa para viver sua vida e ser feliz?
Como não gosto de mentir, permaneci em silêncio.
Tom se levanta irritado, diz que estraguei sua noite. Mas amanhã ele vai me procurar, para que eu estrague sua noite novamente, salvando assim a sua vida.

Fiquei sozinho na companhia de um copo pela metade. E antes que eu pudesse me perguntar se ele estava meio cheio ou meio vazio, gerando assim um conflito interno sobre minha vida, virei ele em um único gole.
- Ele está vazio, e eu estou cheio

Antes de chegar em casa naquela noite, tocou meu telefone. Era Anne, ela se queixou por estar cansada de ser a número Dois.
Pobre Anne, mal sabe ela, que é apenas o número Quatro